Moradores e pequenos comerciante da região acreditam que o tombamento estadual, analisado pelo Condephaat, vai dificultar e encarecer reformas eventualmente necessárias
Movimento é apontado como uma estratégia orquestrada por lideranças políticas e empresariais favoráveis à construção de um conjunto de prédios no terreno da antiga Fábrica de Tecidos Boyes (Mateus Medeiros)
Adesivos contrários ao tombamento estadual do Complexo Beira-Rio estão sendo espalhados pelas fachadas das residências da Rua do Porto. O movimento é apontado como uma estratégia orquestrada por lideranças políticas e empresariais favoráveis à construção de um conjunto de prédios de apartamento no terreno da antiga Fábrica de Tecidos Boyes.
Para os defensores do condomínio residencial Mirante de Piracicaba - ou Boulevard Boyes, como era originalmente identificado - a obra é essencial para a revitalização da área envoltória da Rua do Porto. Os oponentes do projeto, no entanto, afirmam que o projeto é de interesse meramente comercial, vai desfigurar a paisagem histórica e comprometer a preservação ambiental do trecho.
Desvaloriza ou não?
Moradores e pequenos comerciante da região acreditam que o tombamento estadual, analisado pelo Condephaat, vai dificultar e encarecer reformas eventualmente necessárias, com a consequente desvalorização dos imóveis.
Do outro lado, profissionais do Movimento Salve a Boyes afirmam que a opinião pública é manobrada pelos empresários. Parte da população, dizem, não teria noção de que o tombamento é uma forma de valorizar os imóveis do polígono onde a cidade nasceu.
A adesivação
A responsável pela afixação dos adesivos é a comerciante Samira Jacqueline Vicente, da Associação dos Moradores da Rua do Porto (Amoporto).
Ela é filha de Cidão Pamonheiro (Aparecido Octavano), apontado como autor do icônico jingle famoso no Brasil todo (“Pamonhas de Piracicaba, o puro creme do milho...") .
Ela conta que o pai fundou seu negócio e, desde 1959, lutava por melhorias na Rua do Porto. De acordo com Samira, cem adesivos foram produzidos e pagos "por uma vaquinha entre os moradores", e expressam a preocupação com o tombamento pelo Estado.
"O trecho foi tombado pelo Município e, desde então, os comerciantes sofrem com a burocracia. Se vier esse tombamento que estão querendo, será o fim!", disse. "Hoje já é difícil conseguir liberação para pequenas mudanças. Temos de esperar meses por uma avaliação. Agora corremos o risco de ver a situação ficar ainda mais complicada, por conta de um projeto de tombamento estadual sobre o qual nem fomos consultados".
Para a comerciante, todos os donos de imóveis pagam impostos, geram empregos e geram turismo. E, mesmo assim,terão seus imóveis desvalorizados pelo tombamento.
O outro lado
Historiador, produtor cultural e membro do Movimento Salve a Boyes, Pablo Carajol afirma que os moradores contrários ao tombamento estão completamente enganados a respeito do projeto. Para ele - que também integra na Câmara o Mandato Coletivo A cidade é Sua - qualquer intervenção física no imóvel será permitida, desde que não descaracterize a arquitetura histórica.
"O tombamento do polígono na certa vai valorizar os imóveis, que vão atrair um interesse cada vez maior dos turistas. Se a Rua do Porto for descaracterizada, vai deixar de atrair visitantes", afirma. "Andaram divulgando fake news, dizendo que o dono do imóvel não ia conseguir pintar uma parede ou reformar um banheiro. Não é verdade. O tombamento analisa os imóveis um a um, e estipula regras para obras em cada um deles."
Na opinião de Pablo, a adesivagem é bancada pelos empresários do Boulevarb Boyes, por meio de lideranças da Amoporto.
O adesivo nas casas, contrário ao tombamento, remete à imagem da Ponte Pênsil e da própria Boyes, o que levantou a suspeita de que o movimento contrário ao tombamento seria patrocinado pelos empreendedores.