INTERNACIONAL

Fenômeno Guaidó chegou à data de validade?

Durante quase dois anos a Venezuela teve dois presidentes: Nicolás Maduro tem, na prática, o controle absoluto do país; e o outro, Juan Guaidó, apesar de ser reconhecido por 50 países, não conseguiu romper o governo

AFP
04/01/2021 às 12:09.
Atualizado em 24/03/2022 às 01:13

Durante quase dois anos a Venezuela teve dois presidentes: Nicolás Maduro tem, na prática, o controle absoluto do país; e o outro, Juan Guaidó, apesar de ser reconhecido por 50 países, não conseguiu romper o governo.

A situação tem data de validade, de acordo com analistas.

Na terça-feira (5), toma posse um novo Parlamento dominado pelo chavismo, que terá 256 das 277 cadeiras depois da recusa dos principais partidos de oposição de participarem das eleições legislativas de 6 de dezembro, que chamaram de "fraude".

"Não acredito que a dualidade persista por muito mais tempo, ao menos nos termos de 2019, quando Guaidó, da Presidência do Parlamento, prestou juramento como presidente encarregado da Venezuela e recebeu o apoio de mais de 50 países liderados pelos Estados Unidos", afirma Benigno Alarcón, diretor do Centro de Estudos Políticos e de Governo da Universidade Católica Andrés Bello.

Menos ainda, acrescenta Alarcón, com a pandemia de covid-19, pois Maduro "utilizará", como fez em 2020, suas políticas de confinamento para conter possíveis protestos.

Diante de uma multidão em uma praça de Caracas, Guaidó se proclamou presidente interino em 23 de janeiro de 2019, depois que a Câmara, de maioria opositora, declarou Maduro "usurpador", ao acusá-lo de reeleição com fraude em maio de 2018.

Com amplo respaldo internacional, o líder opositor estabeleceu um novo rumo da crise política de um país com sete anos de recessão, estimulando novos e grandes protestos contra Maduro.

Sua popularidade se aproximou de 80%, de acordo com pesquisas de institutos como o Datanálisis.

Em 26 de dezembro, em uma sessão virtual, a Assembleia Nacional, cujas decisões foram rejeitadas pelo Tribunal Supremo de Justiça, de linha chavista, aprovou um documento que estabelece uma "continuidade administrativa" com Guaidó à frente.

"A continuidade será exercida pela Assembleia Nacional eleita em 6 de dezembro de 2015", destaca o texto.

O Congresso de Guaidó funcionará por meio de uma "comissão delegada até que sejam realizadas eleições presidenciais e parlamentares livres, justas e verificáveis no ano de 2021; um evento político excepcional e inesperado ocorra em 2021; ou mesmo por um período parlamentar anual adicional a partir de 5 de janeiro de 2021", acrescenta.

"Mas esta continuidade administrativa não tem fundamentos legais na Constituição", afirma o cientista político Jesús Castillo-Molleda.

E a dualidade de presidentes "pesa mais fora do que dentro", aponta Alarcón. "Na Venezuela, todos sabem que esta posição é mais simbólica do que outra coisa, que não há forma de exercê-la, porque não há controle das instituições", explica o analista.

"Maduro tem o controle do país pela força e administra todas as instituições", acrescenta.

"É muito provável que, se a crise não for solucionada, Guaidó permaneça como líder da oposição no exílio", comenta Rafael Álvarez, analista da Iuriscorp.

Em uma entrevista recente, no entanto, Guaidó disse à AFP que descarta deixar o país, apesar das ameaças de prisão.

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