INTERNACIONAL

Médicos africanos sob pressão pelo coronavírus

Entre o aumento de infecções, equipamento de proteção escasso e o estresse, os profissionais da saúde que combatem a pandemia de coronavírus na África trabalham sob forte pressão

AFP
18/06/2020 às 10:04.
Atualizado em 27/03/2022 às 16:38

Entre o aumento de infecções, equipamento de proteção escasso e o estresse, os profissionais da saúde que combatem a pandemia de coronavírus na África trabalham sob forte pressão. Esta é a situação em três países:

Segundo o ministério da Saúde da África do Sul, mais de 2.000 profissionais do setor contraíram o vírus e pelo menos 17 morreram. Quase 80% das infecções ocorreram na província de Cabo Ocidental, a principal fonte de infecção do país.

Um médico de uma clínica pública no município de Khayelitsha, na Cidade do Cabo, disse à AFP que o fornecimento de equipamentos de proteção estava atrasado e que os médicos estão sob forte estresse.

"Seus colegas são infectados, a morte de um parceiro é algo que afeta, necessariamente", disse ele após solicitar o anonimato.

"Se você está em uma zona de guerra e um soldado é baleado e você tem que ir no dia seguinte para a mesma zona de guerra com essa memória, é pesado", afirmou.

De acordo com o presidente do sindicato regional de funcionários de hospital, Gerald Lotriet, seis greves foram realizadas na província de Cabo Ocidental esde abril e 7.000 funcionários deixaram seus empregos diante do risco de contágio.

"Algumas enfermeiras me disseram: "se eu soubesse da COVID-19, teria entrado para o exército"", disse à AFP. "No exército, se houver uma bomba, você precisa fugir e, no nosso caso, eles nos dizem que você precisa se lançar sobre ela", argumentou.

O sindicato nacional de enfermagem planeja registrar uma queixa contra um hospital por expor seus trabalhadores ao vírus, segundo seu secretário-geral, Cassim Lekhoathi.

"Os setores público e privado são deficientes. Adquiriram EPI [equipamento de proteção], mas na linha de frente não há disponível", disse ele à AFP. "Realmente, é uma pena que nossos membros tenham que recorrer à greve, que é a última coisa desejável no meio de uma pandemia", explicou ele.

Na Nigéria, o país mais populoso da África, há mais de 800 casos e 11 mortes entre profissionais da saúde, segundo a Agência Nacional de Controle de Doenças (NCDC).

Os médicos dos hospitais públicos, que muitas vezes estão muito deteriorados e subfinanciados, iniciaram uma greve a segunda-feira para protestar contra as más condições de trabalho, incluindo a falta de equipamento de proteção.

"Somos uma espécie em extinção. Nossos membros precisam enfrentar riscos diários de infecção porque não há EPIs suficientes", disse à AFP uma pessoa encarregada da Associação Médica da Nigéria.

"Em Lagos, alguns trabalhadores da saúde foram detidos pela polícia por supostamente violar o toque de recolher" durante o confinamento, acrescentou.

E à medida que o número de infecções aumenta, o país está ficando sem leitos em salas de isolamento. Em breve não haverá nenhum.

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